terça-feira, 17 de março de 2020

Resenha - Fahrenheit 451, de Ray Bradbury


A trama se passa em um futuro próximo, no qual um governo totalitário condena quaisquer tipos de materiais literários e didáticos. A obra foi concebida em 1953, período pós Segunda Guerra, e traz críticas severas à opressão anti-intelectual nazista, mostrando-nos a apreensão do autor pelo viés de uma sociedade inflexível.

Em Fahrenheit 451, adentramos a rotina da personagem Guy Montag (que é um bombeiro responsável pela queima de livros). Sim, você leu certo: os bombeiros se ocupam na incineração das casas e bibliotecas de cidadãos que infligem a lei antilivros.

Montag — que passa bastante tempo questionando-se acerca das suas motivações ou seu emprego — contesta seus ideais após ver uma mulher ser queimada viva junto ao seus livros. O bombeiro divaga sobre o que poderia haver ocasionado tal atitude. Ela estaria ensandecida? Ou será que os livros de fato tinham algo a oferecê-la?

O enredo é absurdamente tenso. Ao opor-se à ordem natural das coisas, Montag se põe num verdadeiro inferno terrestre.

Fahrenheit 451 é um livro profundo: inspira questionamentos filosóficos que instigam o leitor a refletir sobre como seria o mundo caso os livros fossem extinguidos.

terça-feira, 3 de março de 2020

Resenha - Noites Brancas, de Fiódor Dostoiévski


Eu estive buscando por um ponto de partida para a obra de Dosto por algum tempo, o adorável romancista existencial que é o orgulho e a alegria do cânone literário da Rússia. Por fim, decidi que iria facilitar meu caminho com algumas de suas ficções mais breves. "Noites Brancas", uma das primeiras novelas de Dostoiévski, parecia exatamente "a coisa".⠀
A história é narrada por um narrador sem nome que adora divagar. Ele mora sozinho em um apartamento em São Petersburgo e não tem amigos ou família: apenas sua empregada matrona e alguns transeuntes aos quais ocasionalmente tira o chapéu enquanto está a caminho do trabalho.⠀
Uma noite, ele conhece uma jovem bonita chamada Nástienka. Uma moça órfã que fora enviada para morar com sua avó. Nástienka é tão solitária quanto o narrador, eles rapidamente se tornam amigos e, por parte do narrador, essa amizade logo se transforma em amor. Mal sabe nosso herói que Nástienka já está noiva de outro homem.⠀
Noites Brancas é uma ótima história. É fato que termina de uma forma melancólica, com Nástienka escolhendo seu noivo ao invés do narrador, porém, essa conclusão infeliz é, aos meus olhos, parte do que dá a essa narrativa seu impacto. Pois, veja, quando se torna aparente que Nástienka não está querendo deixar o noivo, o narrador simplesmente a deixa ir.
Esse tipo de história de amor é demasiado atrativa para mim, porque retrata um herói que realmente ama a mulher e não a ideia de amor, ou com algum tipo de visão idealizada de como poderia ser a vida deles.⠀
É óbvio que a trama não é isenta de falhas. A brevidade do relacionamento do narrador com Nástienka, talvez, cheire ao temido "amor passageiro". ⠀
A história termina com uma moral que, embora seja profunda, pode parecer um pouco intrincada. E, como você notará, caso decida ler Noites Brancas, o narrador-personagem, é, por vezes, um tagarela.⠀
Na segunda parte da novela, por exemplo, contém um longo monólogo dele no qual ele descreve minuciosamente alguns de seus devaneios preferidos. Isso, provavelmente, deixará certos leitores no tédio, mas, para mim, foi essencial para a construção do desfecho.