sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Resenha - Carmilla: A Vampira de Karnstein, de Sheridan Le Fanu


Carmilla foi originalmente publicada no Reino Unido em 1872, pela editora Bentley, antecedendo, assim, o Drácula. É importantíssimo mencionar que a novela é uma referência gótica que veio a influenciar a literatura vampírica.

A narrativa é contada em primeira pessoa pela personagem Laura, uma jovem que mora com o pai e duas governantas em um castelo na Estíria. A estória envolve o encontro da moça com a personagem-título. Laura, juntamente de seu pai, presencia um acidente de carruagem e ambos se dispõem a prestar assistência.

Consequentemente, acabam fornecendo abrigo a essa jovem que se encontra em estado de letargia, enquanto sua "mãe" segue viagem alegando ter uma obrigação impreterível sobre a qual não revela sequer um pormenor.

A hóspede que há anos foi vista inexplicavelmente em sonho pela narradora, é descrita como bela e lânguida. Sua presença sacia a ânsia de Laura por companhia, gerando laços fortíssimos de atração entre as duas.

Le Fanu, apesar da época, não se preocupou em esconder o gritante elemento lésbico que compõe a trama. Carmilla seduz vítimas do sexo feminino na narração. A impossibilidade de um vampiro entrar em um local sem que seja convidado, está presente em Carmilla. Fator que é bastante difundido em narrativas posteriores.

O único "defeito" de Carmilla - A Vampira de Karnstein é a sua brevidade: 96 páginas.

Resenha - Amores Impossíveis E Outras Perturbações Quânticas, de Lucas Silveira


Eu tenho acompanhado a evolução do Lucas enquanto compositor / cantor há algum tempo (ouçam A Sinfonia de Tudo Que Há), por isso, não foi surpresa para mim me deparar com esta obra cativante que é resultante da ascenção intelectual daquele que a concebeu.

O livro é composto por crônicas, e cada textículo é recheado de fragmentos da alma sensível do seu criador. Neste livro, podemos vislumbrar um pormenor que passa despercebido à maior parte das pessoas: há poesia em cada acontecimento da nossa rotina.


A escrita do Lucas é visceral, e para comprovar o que digo:
"Eu quero que meu impacto nas pessoas seja sutil como a colisão de dois caminhões em sentidos opostos''.
"Saudade não é ausência, é presença. Presença de algo que não está mais lá".
"Enquanto você não está, o vento segue uivando, as árvores continuam a balançar e essa pessoa aí do seu lado pode até vir a conhecer alguém mais interessante que você e isso vai certamente te entristecer um bocado".
"Como esporos de flores que pelas abelhas são levados ao longe, pedaços de minha alma hoje ocupam os mais diversos lugares".
"O presente nada mais é do que o momento em que passado e futuro se beijam".

A leitura é tão agradável que você devora o livro numa sentada. Contudo, tal brevidade traz consigo uma profundidade cavalar! Eu sei que sou suspeita demais para falar sobre a grandeza desses escritos, porém, eu tenho certeza que quaisquer pessoas diriam pareceres similares ao meu.


A fonte do livro está bem adequada; o espaçamento entre as letras foi devidamente posto e o título de cada crônica é "grifado" por um tom de azul que dialoga perfeitamente com as imagens do livro. A diagramação, então, nem preciso mencionar! Estão curiosos? Não vejo outra saída senão adquirir a obra.

domingo, 1 de dezembro de 2019

XVI


Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo

Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto,

Não cabe no meu canto.
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O poema acima faz parte do livro "Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão", que foi ousadamente publicado pela dona Hilst durante a ditadura militar, em 1974.