domingo, 1 de setembro de 2019

Resenha - Os Pássaros, de Frank Baker


BAKER, Frank. Os Pássaros. Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2016. 304 p.

Após oitenta anos de sua publicação original, Os Pássaros, de Frank Baker, veio ao Brasil graças a Editora DarkSide Books.
Certo dia, a cidade de Londres foi invadida por milhares de pássaros. Eles voavam em grupo e pousavam em monumentos, como se perscrutassem o local e os cidadãos que os observavam. A princípio, eles se tornaram uma atração às pessoas, e estas questionavam-se acerca de onde e por que vieram. Contudo, não tardou para que os pássaros respondessem à última pergunta; do nada, eles passaram a perseguir, ferir e matar as pessoas.


Os Pássaros é um romance obscuro recheado de suspense. É narrado em primeira pessoa por um sobrevivente da época em que os pássaros chegaram à City. O narrador-personagem se encontra numa idade avançada e conta os fatos da maneira que consegue recordá-los para Anna, sua filha, fornecendo-lhe detalhes da vinda das criaturas aladas e de como foi a reação do público em geral. A história é narrada vagarosamente, para que possamos vivenciar as angústias do narrador, que nos agracia com os seus pensamentos filosóficos constantemente:

"Enquanto eu conhecesse as inesgotáveis forças de criação da Alma, não precisaria nunca temer a morte, pois a morte era uma palavra inventada por alguém cujo corpo havia perdido sua Alma. Quando esse corpo se aproximasse do fim, procederia ao ato final de oferecer-se à Alma, fortalecida dessa forma para sempre, iria se identificar com o outro universo de onde surgiu". 
"Em sua criação, um homem coloca todo o amor que jamais sentiu pelo mundo natural. Como uma homenagem à força criativa que o fez: uma assinatura de sua existência. O artista deve trabalhar para si; trabalhar somente para expressar a si mesmo, sem buscar nenhuma recompensa que não seja a satisfação  em saber que dele veio uma reafirmação da verdade".
"Eu soube, de uma maneira que jamais havia aceitado antes, que eu permanecia sozinho, que ninguém poderia invadir minha Alma. Tampouco eu poderia penetrar na intimidade de qualquer outra Alma (...) eu não podia salvar ninguém, pois ninguém tinha o poder de salvar um homem a não ser ele mesmo".
Os Pássaros foi publicado em junho 1936, três anos antes de a Segunda Guerra Mundial iniciar. No romance, nos deparamos com passagens nas quais podemos sentir o medo inflamar na sociedade. Há momentos em que o autor soa profético ao descrever o clima aterrador: 
“Percebi em tudo um sentimento terrível de instabilidade do falso mundo que havíamos erguido no lugar do mundo verdadeiro, que era nossa herança".


A metáfora que engolfa os pássaros é uma nuvem negra a se aproximar da cidade, e pode ser compreendida como o espelho desse medo de que algo muito ruim estava por vir. A meu ver, Os Pássaros é um romance apocalíptico, no qual as criaturas aladas simbolizam entidades diabólicas que são providas do que há de pior no ser humano.

Caro leitor, se um pássaro pousar em seu umbral, encare a si mesmo nos olhos hediondos dele.

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